quinta-feira, 27 de novembro de 2008
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
domingo, 16 de novembro de 2008
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
1 Mundo feito de Linguagem
As evidências recolhidas em milénios de experiência xamânica argumentam que, em certa medida, o mundo é de facto feito de linguagem. Contrariando embora as expectativas da ciência moderna, esta proposição radical está de acordo com boa parte do actual pensamento linguístico.
" A revolução linguística do século XX", segundo a antropóloga Misia Landau, da Universidade de Boston, "é o reconhecimento de que a linguagem não é apenas um instrumento para comunicar ideias sobre o mundo mas sim, em primeiro lugar , uma ferramenta para fazer o mundo existir. A realidade não é simplesmente´experimentada`ou ´reflectida` na linguagem; ela é, de facto, produzida pela linguagem". 4
Segundo o ponto de vista do xamã psicadélico, o mundo parece existir mais na natureza de uma expressão vocal ou de uma narrativa do que atravês de qualquer relacionamento com os leptões e bariões de que falam os nossos sumo sacerdotes, os físicos. Para o xamã, o cosmos é uma narrativa que se torna real ao ser contada e ao contar-se a si próprio. Esta prespectiva implica que a imaginação humana pode agarrar o leme de estar no mundo. Neste ponto de vista conbinam-se a liberdade, a responsabilidade pessoal e uma consciência humilde do verdadeiro tamanho e da inteligência do mundo, de modo a torná-lo uma base adequada para a autêntica vida neo-arcaica. Uma reverência pelos poderes da linguagem e da comunicação, bem como uma imersão neles, constituem as bases do caminho xamãnico.
Por esta razão o xamã é o antepassado remoto do poeta e do artista. A necessidade de nos sentirmos parte do mundo parece exigir que nos expressemos através da actividade criativa. As fontes primordiais desta criatividade encontram-se ocultas no mistério da linguagem. O êxtase xamãnico é um acto de rendição que autentica tanto o Eu individual quanto aquilo a que ele se rende, o mistério do ser. Sendo os nossos mapas da realidade determinados pelas circunstâncias presentes, tendemos a perder a consciência dos padrões temporais e espaciais mais vastos. somente através do acesso ao Outro Transcendente é possivel vislumbrar esses padrões temporais e espaciais e o nosso papel dentro deles. O xamãnismo aspira a este ponto de vista superior, que é alcançado através de um prodígio de destreza linguística. Um xamã é alguém que alcançou uma visão dos princípios e dos fins de todas as coisas e que pode comunicar essa visão. Para o pensador racional isto é inconcebível; as técnicas do xamãnismo, porém, direccionam-se para este objectivo, sendo esta a fonte de seu poder. Entre as técnicas dos xamãs, a principal é o uso de plantas alucionogénicas, repositórios da gnose vegetal viva que se encontra, agora praticamante esquecida, no nosso passado remoto.
4.citado em RogerLewin, in the Age of Mankind;(Nova Iorque: Smithsonian Institution,1988),p.180.
credits: Terence McKenna (1946-2000) - Food of the Gods ,1992
" A revolução linguística do século XX", segundo a antropóloga Misia Landau, da Universidade de Boston, "é o reconhecimento de que a linguagem não é apenas um instrumento para comunicar ideias sobre o mundo mas sim, em primeiro lugar , uma ferramenta para fazer o mundo existir. A realidade não é simplesmente´experimentada`ou ´reflectida` na linguagem; ela é, de facto, produzida pela linguagem". 4
Segundo o ponto de vista do xamã psicadélico, o mundo parece existir mais na natureza de uma expressão vocal ou de uma narrativa do que atravês de qualquer relacionamento com os leptões e bariões de que falam os nossos sumo sacerdotes, os físicos. Para o xamã, o cosmos é uma narrativa que se torna real ao ser contada e ao contar-se a si próprio. Esta prespectiva implica que a imaginação humana pode agarrar o leme de estar no mundo. Neste ponto de vista conbinam-se a liberdade, a responsabilidade pessoal e uma consciência humilde do verdadeiro tamanho e da inteligência do mundo, de modo a torná-lo uma base adequada para a autêntica vida neo-arcaica. Uma reverência pelos poderes da linguagem e da comunicação, bem como uma imersão neles, constituem as bases do caminho xamãnico.
Por esta razão o xamã é o antepassado remoto do poeta e do artista. A necessidade de nos sentirmos parte do mundo parece exigir que nos expressemos através da actividade criativa. As fontes primordiais desta criatividade encontram-se ocultas no mistério da linguagem. O êxtase xamãnico é um acto de rendição que autentica tanto o Eu individual quanto aquilo a que ele se rende, o mistério do ser. Sendo os nossos mapas da realidade determinados pelas circunstâncias presentes, tendemos a perder a consciência dos padrões temporais e espaciais mais vastos. somente através do acesso ao Outro Transcendente é possivel vislumbrar esses padrões temporais e espaciais e o nosso papel dentro deles. O xamãnismo aspira a este ponto de vista superior, que é alcançado através de um prodígio de destreza linguística. Um xamã é alguém que alcançou uma visão dos princípios e dos fins de todas as coisas e que pode comunicar essa visão. Para o pensador racional isto é inconcebível; as técnicas do xamãnismo, porém, direccionam-se para este objectivo, sendo esta a fonte de seu poder. Entre as técnicas dos xamãs, a principal é o uso de plantas alucionogénicas, repositórios da gnose vegetal viva que se encontra, agora praticamante esquecida, no nosso passado remoto.
4.citado em RogerLewin, in the Age of Mankind;(Nova Iorque: Smithsonian Institution,1988),p.180.
credits: Terence McKenna (1946-2000) - Food of the Gods ,1992
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
´Somos o que comemoS`
A história que propomos para o surgir do homem à luz da autoconsciência é uma história de somos-o-que-comemos. Grandes mudanças climáticas e uma dieta recém-ampliada, e portanto mutagénica, proporcionaram muitas oportunidades para a selecção natural afectar a evolução das principais caracteristicas humanas. Cada contacto com um novo alimento, uma nova droga ou um condimento estava prenhe de riscos e consequências imprevisíveis. E isto é ainda mais verdadeiro hoje em dia, quando a nossa comida contém centenas de preservativos e aditivos mal estudados.
Como exemplo de plantas com impacto potencial sobre uma população humana, considere-se a batata-doce do género Dioscorea. Em boa parte do mundo tropical as batatas-doces proporcionam uma fonte de alimento fiável e nutritiva. Não obstante, várias espécies muito próximas contém compostos que interferem na ovulação. (Estas tornaram-se a fonte de matérias-primas para as modernas pílulas anticoncepcionais). Algo próximo do caos genético abater-se-ia sobre uma população de primatas que passasse a alimentar-se destas especies de Dioscorea. Muitas situações assim, ainda que de magnitude menos espectacular, devem ter ocorrido enquanto os primeiros hominídeos experimentavam novos alimentos, ao mesmo tempo que expandiam os seus hábitos dietéticos omnívoros.
Comer uma planta ou um animal é um modo de apoderar-se do seu poder, de assimilar a sua mágia. Na mente dos povos pré-literatos raramente são claras linhas divisórias entre drogas, alimentos e condimentos. O xamã que se empanturra de pimenta para aumentar o calor interno dificilmente estará num estado menos alterado do que o entusiasta de óxido nitroso após uma longa inalação. Na nossa percepção do sabor e na nossa busca de variedade na sensação do comer, somos marcadamente diferentes até mesmo dos nossos primos primatas. em algum ponto do caminho, os nossos novos hábitos omnívoros e o nosso cérebro em evolução, com a sua capacidade de processar dados sensórios, uniram-se na feliz ideia de que a comida pode ser uma experiência. Nasceu a gastronomia - para juntar-se à farmacologia que certamente a precedeu, já que a manutenção da saúde através da regulação da dieta é observada entre muitos mamíferos.
A estratégia dos primeiros hominídeos era comer tudo o que parecesse comestível e vomitar o que não se revelasse palatável. Plantas, insectos e pequenos animais considerados comestíveis através deste método eram introduzidos na dieta. Uma dieta mutável ou uma dieta omnívora significam exposição a um equilíbrio químico em constante alteração. Um organismo pode regular esse influxo químico através de processos internos, mas, em última intância, as influências mutagénicas crescerão e será oferecido ao processo de selecção natural um número maior do que o usual de individuos geneticamente desviantes. O resultado desta selecção natural são mudanças aceleradas na organização neural, nos estados de consciência e no comportamento.
Nenhuma mudança é permanente, cada uma dá lugar a outra. Tudo flui.
Como exemplo de plantas com impacto potencial sobre uma população humana, considere-se a batata-doce do género Dioscorea. Em boa parte do mundo tropical as batatas-doces proporcionam uma fonte de alimento fiável e nutritiva. Não obstante, várias espécies muito próximas contém compostos que interferem na ovulação. (Estas tornaram-se a fonte de matérias-primas para as modernas pílulas anticoncepcionais). Algo próximo do caos genético abater-se-ia sobre uma população de primatas que passasse a alimentar-se destas especies de Dioscorea. Muitas situações assim, ainda que de magnitude menos espectacular, devem ter ocorrido enquanto os primeiros hominídeos experimentavam novos alimentos, ao mesmo tempo que expandiam os seus hábitos dietéticos omnívoros.
Comer uma planta ou um animal é um modo de apoderar-se do seu poder, de assimilar a sua mágia. Na mente dos povos pré-literatos raramente são claras linhas divisórias entre drogas, alimentos e condimentos. O xamã que se empanturra de pimenta para aumentar o calor interno dificilmente estará num estado menos alterado do que o entusiasta de óxido nitroso após uma longa inalação. Na nossa percepção do sabor e na nossa busca de variedade na sensação do comer, somos marcadamente diferentes até mesmo dos nossos primos primatas. em algum ponto do caminho, os nossos novos hábitos omnívoros e o nosso cérebro em evolução, com a sua capacidade de processar dados sensórios, uniram-se na feliz ideia de que a comida pode ser uma experiência. Nasceu a gastronomia - para juntar-se à farmacologia que certamente a precedeu, já que a manutenção da saúde através da regulação da dieta é observada entre muitos mamíferos.
A estratégia dos primeiros hominídeos era comer tudo o que parecesse comestível e vomitar o que não se revelasse palatável. Plantas, insectos e pequenos animais considerados comestíveis através deste método eram introduzidos na dieta. Uma dieta mutável ou uma dieta omnívora significam exposição a um equilíbrio químico em constante alteração. Um organismo pode regular esse influxo químico através de processos internos, mas, em última intância, as influências mutagénicas crescerão e será oferecido ao processo de selecção natural um número maior do que o usual de individuos geneticamente desviantes. O resultado desta selecção natural são mudanças aceleradas na organização neural, nos estados de consciência e no comportamento.
Nenhuma mudança é permanente, cada uma dá lugar a outra. Tudo flui.
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